Fiéis Finados
Em especial este dia que antecede o primeiro domingo da quaresma a Igreja busca lembrar aos fiéis vivos sua responsabilidade com relação aos seus antepassados ou seja aqueles que lhes legaram a fé cristã.
É bom lembrar que a Igreja compõe-se não só dos fiéis vivos e das hierarquias clericais ou sacerdotais terrenas, mas, também, dos fiéis finados bem como de todos os seres celestiais – categorias angelicais – dos profetas, santos, mártires, justos e das três pessoas da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Vamos nos ocupar por um momento dos seres terrestres:
Os seres vivos, ou melhor os seres humanos crentes, ou fiéis da doutrina cristã, aqueles que receberam o batismo, foram crismados e comungam da mesa do Senhor nas missas, podem se arrepender de seus erros ou pecados, confessar, receber perdão através da força do Espírito Santo através do sacerdote, podem então comungar.
Já os fiéis finados não podem mais agir, não podem se arrepender ou confessar seus erros e pecados então ficam efetivamente a mercê do julgamento ou juízo final, mas, por outro lado, nós que estamos vivos podemos pedir a misericórdia e piedade de Deus para com eles para que Ele na sua benigna graça conceda a eles o perdão dos pecados cometidos involuntariamente.
Obviamente não há como pedir perdão para um “serial killer” ou um assassino convicto, ou mesmo um ladrão ou estuprador ou ainda um mentiroso contumaz, pois estes cometem atos prejudiciais aos seus semelhantes consciente ou voluntariamente.
Mas, porque pedir perdão tanto os vivos como para os mortos?
Basicamente porque nós cristãos cremos na vida eterna ou a vida depois da morte.
Muitos céticos questionam esta vida pós-morte.
Alguns fatos da vida de Cristo, Nosso Senhor e Salvador, são efetivamente voltados para a comprovação da vida pós-morte.
O fato mais importante de todos é a ressurreição de Jesus Cristo.
Antes da sua morte na Cruz, Ele promete ao ladrão da sua direita, “o bom ladrão” que ainda naquele dia estaria com Ele no Paraíso.
Na transfiguração, os apóstolos vêem Jesus Cristo com Moises e Elias, aquele, Moises, é considerado entre os mortos e Elias, entre os vivos. Os dois aparecem dialogando com Cristo. Em especial esta manifestação demonstra que os que compartilharem a vida com Cristo têm a oportunidade de interagir com a Divindade e não só como algumas igrejas divulgam a idéia de divagar num espaço agradável de forma ociosa.
Acompanhemos o raciocínio dos céticos e façamos a mesma pergunta feita a Paulo:
Como pode haver vida depois da morte se os corpos se decompõem?
A resposta é clara na epístola de Paulo; não são os corpos mortais ou corruptíveis que herdarão o reino dos céus, mas corpos incorruptíveis, aqueles merecedores desta honraria, serão como anjos de Deus no Paraíso.
Espera! E o ladrão que foi bandido a vida toda, por que vai também para o Paraíso?
Muito simples, ele se arrependeu, reconheceu Jesus Cristo como Filho do Altíssimo e Santo – lembre-se – o ladrão, diz ao outro, Ele é inocente e não cometeu nenhum mal!
O arrependimento sincero e a confissão na undécima hora, ou seja, na hora da morte, pode ser aceita por Deus e na sua magnânima graça conceder o perdão ao pecador.
A prostituta que os judeus queriam apedrejar foi salva por Cristo, mas por outro lado Ele ordenou, “vai e não peques mais”, antes Ele perguntou: “onde estão aqueles que te condenavam? E, continuou, eu também não te condeno.”
Neste ponto é preciso analisar, Cristo não condenou, perdoou o pecador e a pecadora, um por arrependimento e confissão e a outra para uma nova oportunidade.
O que ia morrer de qualquer maneira ou seja, o ladrão na cruz, valeu o arrependimento sincero e a confissão de ser Ele Cristo o Filho de Deus; já a prostituta que conseguiu escapar da morte, a oportunidade de recomeçar uma vida pura, sem pecado.
Voltemos aos nossos fiéis finados, eles não tem a oportunidade de se regenerar, por isso necessitam das nossas orações, já nós os vivos temos a obrigação de não mais errar depois de perdoados.
A vida após a morte, ou a fé na ressurreição é a base da nossa esperança, pois, assim, a definiu Paulo, o apóstolo, e, portanto, a Igreja, ciente da impossibilidade de ação daqueles que estão dormindo na esperança da ressurreição, ora por todos eles em todas as liturgias e em especial na de finados.
O sacerdote celebrante nesta liturgia cita o nome de cada fiel que a família solicita sobre o altar antes da oração do ósculo santo (cumprimento da paz) para que Deus na sua misericórdia tenha piedade e aceite todos eles na morada celeste no dia do juízo final.
Já a Igreja Católica Romana define como dogma a existência de um purgatório e, assim, as almas que acumulam “pequenos delitos” são passíveis de uma passagem no purgatório para depois poder esta alma seguir para o Paraíso.
Nossa Igreja Sirian Ortodoxa não aceita esta tese, pois, o próprio Cristo afirmou que o “bom ladrão” estaria com Ele no Paraíso naquele mesmo dia.
Afirmou para os apóstolos que para onde Ele ia, eles não poderiam segui-Lo, mas em breve estariam com Ele.
Perdoou a pecadora, ressuscitou Lázaro, mandou Tabita levantar-se, expulsou os demônios do endemoninhado…, curou o leproso, a hemoroíssa e o cego, abençoou as crianças e orou por todos os seus apóstolos antes de partir.
Em nenhum momento disse a alguém que poderia cometer “pequenos delitos” que iria para o purgatório.
Este local não é citado em nenhum lugar da Bíblia.
A única coisa que sempre se afirmou é que Deus na sua misericórdia perdoou, pois, sabia que sua criatura não era perfeita, mas Ele sempre quis dotá-la da perfectibilidade por livre arbítrio para que merecesse a dádiva da verdadeira vida eterna.
Em especial neste domingo, sabedores que nossos ancestrais como seres humanos não eram perfeitos apesar de nós acharmos que eram nossos heróis, sejamos humildes para pedir ao sacerdote lembrá-los no altar para que o Criador se compadeça da sua criatura e inclua-os no dia do juízo final entre os herdeiros do reino celeste.
Mas, lembre-se também, de praticar um ato de caridade em memória dos seus finados, ou… deixe um óbulo na Igreja que sempre te acolhe.
Obs.: se optar por citar nomes de finados na próxima missa dominical de finados informe o sacerdote, melhor ainda anote os nomes e entregue ao sacerdote antes da missa.
Aniss Sowmy
Diácono Evangelista