As hierarquias sacerdotais existem até os nossos dias na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia.
O diaconato, primeiro degrau das ordenações sacerdotais divide-se em cinco categorias quais sejam: cantores, leitores, afediáconos que são auxiliares diretos do diácono, evangelistas que compreendem o nível completo do diaconato e finalmente o arquidiácono que é o chefe dos diáconos.
A cada nível corresponde uma faixa (dalmática) disposta de forma específica.
A ordenação diaconal acontece através da imposição das mãos.
No próximo dia 10 de agosto de 2008 comemoramos o cinqüentenário das ordenações diaconais no Brasil.
Exatamente no dia 10 de agosto de 1958, em São Paulo, na Igreja Sirian Ortodoxa São João em São Paulo, SS o Patriarca Mar Ignatius Yacoub III durante a cerimônia de Consagração daquela Igreja, ordenou na Missa Pontifical os 22 primeiros diáconos dedicados a um altar no Brasil.
Alguns já vieram com ordenação diaconal do Oriente e foram elevados de categoria e outros foram ordenados pela primeira vez.
Entre estes podemos citar o Dr. Sabri Arslan e seus irmãos Kerim, Tuma, Birhan, Hanna Stiphan Jabra e seus irmãos Salim, Daoud, Jorge, Issa Hanna Chammas, Nakle Issa Kouri e seu irmão Elias, , Peter I. G. Sowmy e seus irmãos e muitos outros…
Participaram da cerimônia de ordenação dos novos diáconos o Reverendo Cura-episcopo recém elevado a esta categoria sacerdotal o Pe. Musa Tuma Hakim de saudosa memória e então Representante Patriarcal no Brasil e o atual Patriarca SS Mar Ignatius Zakai I, Iwas, à época secretário geral do patriarcado.
Alem desta primeira ordenação tivemos no Brasil mais seis cerimônias de ordenação diaconal na Igreja Sirian Ortodoxa de São João e outras duas na Igreja Sirian Ortodoxa Santa Maria. As ordenações foram ministradas da seguinte forma:
1958 – SS o Patriarca Mar Ignatius Yacoub III – ordenações até o nível efediacone
1968 – SS o Patriarca Mar Ignatius Yacoub III – ordenações até o nível efediacone
1978 – S. Emcia Mar Severius Jamil Hanna Hawa – ordenações até o nível efediacone.
1978 – S. Emcia Mar Severius Jamil Hanna Hawa – ordenação de diáconos evangelistas.
1981 – SS o Patriarca Mar Ignatius Zakai I, Iwas – ordenações até o nível efediacone.
1985 – S. Emcia Mar Crisostomos Musa Salama – ordenação de diácono evangelista.
1992 – SS o Patriarca Mar Ignatius Zakai I, Iwas – ordenações até o nível efediacone.
No global aproximadamente 90 leigos no Brasil dedicaram-se ou ainda se dedicam ao diaconato nas nossas Igrejas de São Paulo, Campo Grande e Belo Horizonte.
Ainda na última ordenação havida em 1992, SS o Patriarca Mar Ignatius Zakai I, Iwas ordenou algo como 20 diaconisas cantoras na Igreja Sirian Ortodoxa Santa Maria para as duas Igrejas de São Paulo.
Em nosso trabalho de tradução para a língua portuguesa de uma das Liturgias da nossa Igreja (inédito), registramos os nomes por famílias dos diáconos que serviram ou servem nossas Igrejas no Brasil.
Expoente máximo do diaconato no Brasil e quiçá do século XX foi o professor – malfono – Ibrahim Gabriel Sowmy que lutou de forma incansável pela estruturação do diaconato no Brasil. Ensinou, pelo menos duas gerações seguidas e seus frutos ainda estão à nossa vista como os diáconos Tony Shammo ou Ricardo e Jorge Suleiman.
Na grande obra do diácono Ibrahim G. Sowmy podemos citar com toda ênfase o registro de três volumes – dois já editados e um inédito – de hinos e cerimônias da nossa Igreja registrados em nota musical ocidental, trabalho este realizado com seu filho Bassim Sowmy perpetuando desta forma a melodia e o ritmo do canto dos hinos religiosos.
Mas, o que quer dizer o diaconato na nossa Igreja ou na Igreja Cristã? Como entendê-lo e como ver o seu desenvolvimento na história?
Em verdade o diaconato começa ainda no tempo dos apóstolos logo depois do Pentecostes, quando os apóstolos assumem o sacerdócio pleno e vêem que não mais dispõe de tempo para cuidar da mesa dos órfãos, viúvas e desamparados; então escolhem alguns homens de bem e designam-nos para cuidar destes afazeres. Escolheram então sete homens que temos como os sete primeiros diáconos da Igreja, quais sejam Estevão, Felipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas, Nicolau prosélito de Antioquia. (Atos 6).
Essencialmente o diácono crê que a força da oração tem o poder de operar a conversão do ser humano... (Informativo SURYOYE 8 de março de 1997 publicação da Igreja Sirian Ortodoxa Santa Maria – SP), e, mais ainda, crê o diácono que crer.. não nos tira liberdade mas acrescenta virtude… (Informativo SURYOYE 9 de abril de 1997 publicação da ISO. Sta Maria – SP).
Os diáconos, celibatários ou não, são a fonte inicial e natural das ordenações dos padres e são escolhidos entre o povo.
O diaconato na Igreja Siríaca tem como patrono Santo Estevão, diácono, e, primeiro mártir cristão; o diaconato está dividido em cinco categorias quais sejam; cantores (mzamrone), leitores (koruie), guardiões (efediacone), evangelistas (ewengueloie) e arquidiáconos (arkidiakone).
Todos os diáconos como os sacerdotes devem usar a alva (túnica branca), as categorias dos leitores, guardiões e evangelistas usam alem da alva, a dalmática (faixa) que indica a sua categoria, já os arquidiáconos paramentam-se como os sacerdotes orientais, mas não usam o casulo (capa sacerdotal).
Só ao Patriarca, o Maferiono (Católicos) e os bispos têm o direito de ordenar diáconos até o nível dos guardiões, para as chamadas categorias maiores deve-se ter sempre a aprovação Patriarcal.
Entre os diáconos em evidência com conhecimento profundo das regras e rituais da Igreja escolhem-se os chefes dos grupos diaconais ou “rish gudo”, isto porque na nossa Igreja as orações são cantadas e os diáconos formam dois grupos na frente do altar “gude” a exemplo da visão de Santo Ignatius de Antioquia, o Iluminado, e, por organização de Santo Efrem, o Siríaco; conseqüentemente para liderar os grupos, escolhem-se justamente tais diáconos que vão não só liderar, mas ensinar os novos diáconos.
Existem, também na nossa Igreja a categoria das diaconisas, ressalte-se com uma categoria única, portando as vestimentas idênticas aos dos diáconos guardiões. Na antiguidade eram responsáveis como os diáconos desta categoria pela manutenção, guarda, e administração das Igrejas e das entidades caritativas da Igreja.
Hoje o diaconato na nossa Igreja está restrito exclusivamente ao serviço do altar e ao canto, orações, ensino e em alguns lugares envolvido em atos educacionais e trabalhos caritativos.
Todos os diáconos e diaconisas têm a obrigação de servir a Igreja e o Altar num trabalho voluntário e isento de qualquer remuneração, pelo contrário, o diácono deve ajudar quando necessário para a manutenção da Igreja e demais cargos sacerdotais. (Sirianismo X Judaísmo -Ciclo de Palestras de Ibrahim G. Sowmy no Seminário Pio XI da Igreja Católica Apostólica Romana com publicação no informativo SURYOYE 9 de Abril de 1997 da ISO. Sta Maria – SP).
O diácono é Ministro Sagrado no Novo Testamento, Esta ordem sacra foi instituída para auxiliar a administração da Igreja. A palavra MXAMXONO em aramaico significa servidor ou servo,(nosso grifo e complemento) assim como diácono em grego tem o mesmo significado, e a palavra é usada às vezes neste sentido, no Novo Testamento. Contudo sabemos que os diáconos não eram meros serventes de mesa, uma vez que os apóstolos foram tão cuidadosos ao fazê-los escolher pelo povo e os ordenaram impondo as mãos solenemente. São Paulo em sua carta a Timóteo estabelece alevantado padrão espiritual de vida para os diáconos. (Tim. 3, 8-10). A função do diácono era tripla (na Igreja Primitiva): o serviço da mesa (Atos 6, 2), a pregação (Atos 7, 2-53), e, a administração do batismo (Atos 8, 38). Pelos Padres Apostólicos sabemos que os diáconos constituíam uma ordem apostólica e ocupavam o terceiro lugar na hierarquia eclesiástica, logo após o bispo e o presbítero. O diácono assiste ao sacerdote ou ao bispo pregando, batizando e distribuindo a Comunhão. (Dicionário Prático Bíblico pg 78).
Essencialmente na nossa Igreja Sirian ou Siríaca Ortodoxa reservou-se só aos diáconos evangelistas e arquidiáconos o ministério do batismo ao fiel só em casos de extrema necessidade, e, atualmente os diáconos não mais distribuem a Comunhão.
Na simbologia da nossa Igreja os diáconos durante a Santa Missa representam os anjos em volta do trono celestial enquanto o sacerdote é o Cristo celebrando a Santa Missa, com poder para transformar o Pão e o Vinho no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; no entanto, quando o sacerdote se vira para o povo e distribui os Santos Elementos torna-se apóstolo da Boa Nova, o Mensageiro e supridor do Meio da Salvação.
O diácono por sua vez portador do turíbulo desempenha importante papel em qualquer celebração ou ministério de sacramento. Podemos citar, por exemplo, o fato de o turíbulo quando trazido ao altar pelo diácono, representar São João Batista o predecessor de Nosso Senhor Jesus Cristo preparando o povo para a vinda do Messias, ou quando desce o diácono com o turíbulo entre o povo representa, o turíbulo, a vinda de Cristo, o Verbo Encarnado, para este mundo e trazendo a toda a humanidade o infinito amor de Deus Pai, oferecendo a Si, Cristo, como sacrifício por todos nós e retornando ao Pai reconciliando o céu e a terra.
Quando olhamos a história da nossa Igreja Sirian ou Siríaca Ortodoxa de Antioquia não podemos deixar de citar o grande diácono e monge Santo Efrem (ou Afrem) o Siríaco que nunca aceitou receber o sacerdócio pleno. Definido como o pai fundador da literatura siríaca, foi, também o precursor do misticismo medieval… Moldou a veneração pública da Igreja Oriental. Seus hinos foram especialmente influentes e acompanhavam os fiéis por todas suas vidas cristãs. (John Gwynn, Ëphraim The Syrian – Nicene and Post-Nicene Fathers, 13:120-52 in Veronica and her cloth by Ewa Kurlik).
Efetivamente, Santo Efrem foi exemplo máximo do diaconato celibatário que constituído em simples monge ascético foi prolífero nos trabalhos literários de poesia, filosofia, teologia e até mesmo re-escrevendo a historia de José no Egito de forma teatral.
O que, no entanto, poucos sabem, é que quando à beira da morte como último desejo deste anacoreta em seu Testamento, 135 – registrou:
Àquele que me puser um pálio, que saia para a escuridão externa!
E aquele que me deitar com uma mortalha, que seja arremessado na Geheena do inferno!
Que ele me enterre com minha capa e meu capuz, pois o ornamento não identifica o malfeitor!
Por que será que à última hora ele não aceitou ser enterrado com o símbolo do sacerdócio, ou seja, o pálio?
É simples, em toda a sua vida buscou manter sua imagem de asceta e anacoreta que viveu para exaltar o Altíssimo e sua produção sempre foi voltada para o ensino dos leigos orientando-os na vida espiritual e defendendo-os das heresias.
Ele foi o autor do melhor exemplo de simbolismo da Concepção Milagrosa de Maria, quando disse que assim como o sol penetra a uva e torna-a doce, assim também o Espírito Santo milagrosamente desceu para o útero de Maria fazendo-a conceber o Verbo Encarnado. (hino sobre a natividade).
Caros amigos: repetimos nossa fala alertando a todos os diáconos e diaconisas para a necessidade do aprendizado e da transmissão dos valores espirituais…orar e perseverar, dando exemplo à coletvidade…
Um passado glorioso não nos garante um futuro grandioso, é preciso persistir no constante aprender e ensinar das novas gerações – não o aprender técnico-científico, mas o aprender e ensinar do caminho da verdade e do espírito…
Em toda a humanidade só um homem disse:
“Eu sou o Caminho, a Luz e a Verdade” – foi Nosso Senhor Jesus Cristo que além de homem acreditamos ser o Filho de Deus…
Às suas palavras acrescentemos …
“Viver é caminhar” – mas – caminhemos no rumo certo, no rumo da luz e da verdade.
Se não honrarmos nossos antepassados, não estaremos honrando nossos pais, que tentaram caminhar na Verdade e na Luz – ao contrário estaremos em trevas – mas nós estamos cansados de trabalhar, cansados de obrar na ceara dos homens, precisamos descansar, e esquecemos de honrar nossos pais, nossas tradições nossa cultura, enquanto a Verdade está ao nosso alcance, depende exclusivamente de nós, só é preciso ter vontade…, esquecemos que a preguiça é a sepultura dos vivos…
Nossa tradição, nossos costumes, nossa religião, nossa fé estão a míngua e só depende da nossa vontade fazê-los reviver! (SURYOYE 11 – Jul/Ago/Set 1997 – Publ da ISO. Sta. Maria – SP).
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Aniss Ibrahim Sowmy
Diácono Evangelista
10 de agosto de 2008
Jubileu de ouro das ordenações diaconais no Brasil.