Existe um lugar para Jesus no seu lar?

EXISTE UM LUGAR PARA JESUS NO SEU LAR? 
Homilia de Natal por SS Mar Ignatius Zakai I, Iwas, Patriarca de Antioquia e de todo o Oriente, Sumo Pontífice da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia.Publicada na Revista Patriarcal Vol 31 – Jan/fev 1993 – numero 121/122 pg 2 a 8.“E deu a luz a seu filho primogênito e o enfaixou e o reclinou em uma manjedoura: por que não havia lugar para eles na estalagem”. (Lc. 2:7)O Deus altíssimo escolheu entre todas as mulheres do mundo a Virgem Maria, cheia de graça. O Espírito Santo desceu sobre ela, purificou-a e tornou-a santa. Tornou-se, então, digna para que o Verbo de Deus residisse nela e dela se encarnasse. O apóstolo João descreve este fato dizendo:
 

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele: e nada do que foi feito, foi feito sem ele. Nele estava a vida, e a vida era luz dos homens: e a luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a compreenderam. Houve um homem enviado por Deus que se chamava João. Este veio por testemunha, para dar testemunho da Luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Ele não era a Luz, mas para desse testemunho da Luz. Era a Luz verdadeira, que alumia a todo homem, que vem a este mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam: mas a todos os que o receberam, deu ele poder de se fazerem filhos de Deus aos que crêem no seu nome: que não nasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do varão mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós: e nós vimos a sua glória, a sua glória como de Filho unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. (Jo. 1: 1-14),

O apóstolo Paulo expressa este assunto espantoso dizendo:

“E visivelmente é grande o sacramento da piedade, com que Deus se manifestou em carne, foi justificado pelo espírito, foi visto dos anjos, tem sido pregado aos gentios, crido no mundo, recebido na glória”. (I Tim. 3:16).

É o milagre dos milagres como a Virgem Maria suportou a grandiosidade do milagre da encarnação divina que nela aconteceu, com ela e antes dela! Ela era uma simples menina cuja idade não passava dos catorze anos! E ela era virgem quando deu a luz, e assim continuou quando durante o nascimento e depois do nascimento. Ela era uma mãe enquanto amamentava com seu leite puro seu santo Filho enfaixado e reclinado na manjedoura. Ela deu a luz a ele num estábulo da hospedaria em Belém porque não havia lugar para eles na hospedaria! Quando o anjo lhe deu a boa nova da santa concepção ele lhe disse:

“Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de JESUS. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi: e reinará eternamente na casa de Jacó, e seu reino não terá fim. E disse Maria ao anjo: Como se fará isso, pois eu não conheço varão? E respondendo, o anjo lhe disse: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá da sua sombra. E por isso mesmo o Santo, que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus”. (Lc. 1: 30-35).

Então, onde está a grandeza de Jesus ó anjo Gabriel? Onde está o seu reino? Onde está o seu trono?

Sim o reino de Deus não é deste mundo. Então mesmo que os sacerdotes e os governantes da terra ignorassem a sua existência, os céus exultavam de glória e o anjo trouxe as boas novas do nascimento para os pastores humildes dizendo-lhes:

“Não temais: porque eis aqui vos venho anunciar um grande gozo, que o será para todo o povo! E é que hoje vos nasceu na cidade de Davi o Salvador, que é o Cristo Senhor. E este é o sinal que vo-lo fará conhecer: Achareis um menino envolto em panos, e posto em uma manjedoura. E subitamente apareceu com o anjo uma multidão numerosa da milícia celestial, que louvavam a Deus, e, diziam: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa vontade”. (Lc. 2: 10-14).

Quando os pastores foram rapidamente para o local onde o rei messias tinha nascido, eles encontraram-no e encontraram também, o seu reino que era um estábulo de animais e o seu trono era uma manjedoura. Então eles o adoraram e voltaram divulgando as boas novas da sua natividade. Desta forma eles foram os primeiros a receber as boas novas e foram os primeiros a pregar as novas do Salvador Messias. Mas o sumo sacerdote, os escribas, os fariseus os demais que eram os depositários da fé não sabiam àquele tempo o que estavam perdendo, mesmo quando os magos vieram do Oriente para Jerusalém questionando do nascido, o rei dos judeus. O rei Herodes inquiriu o sumo sacerdote sobre o local do nascimento do Messias. Os sacerdotes disseram-lhe que o profeta Miquéias profetizara que o Messias nasceria em Belém – Efrata, mas eles próprios não se preocuparam em buscá-lo. Assim cumpriu-se neles o que o profeta Isaías profetizara oito séculos antes do nascimento dizendo:

“Conheceu o boi a seu possuidor, e o jumento o presépio do seu dono” (Isaias 1: 2-5).

Por isso não é surpresa quando a Virgem Maria e seu noivo não encontraram lugar na estalagem e eles se refugiaram no estábulo de um boi e um jumento para dar a luz ao Messias. Ali sua mãe o envolveu e o deitou na manjedoura. Por causa do seu nascimento a manjedoura tornou-se um lugar santo e veio a ser o foco da atenção de todos os cristãos e assim para ele vieram os reis da terra e os grandes líderes para tirar suas coroas, inclinar suas cabeças e até adorar o nascido na manjedoura. Sim a manjedoura era o local adequado para a criança Jesus, o Salvador ser colocado, pois, ao contrário, ele desceu do céu para ensinar a humildade. Sua humildade virá a ser uma medicina benéfica para a cura da humanidade das doenças do orgulho e até da submissão à morte, a morte na cruz para tirar a vergonha da desobediência da humanidade contra o mandamento do seu Deus no paraíso:

“Porque assim amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho unigênito para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo. 3:16).

Assim a manjedoura era o local adequado para aquele que veio para servir e não ser servido; para se sacrificar pela redenção de muitos. Ele começou sua divina dispensação salvadora no corpo deitado na simples manjedoura que se transformou no outro extremo da sua vida na cruz da vergonha que ele carregou sobre seus ombros ante a multidão maliciosa que gritava – crucificai-o! crucificai-o! – Então ele foi pendurado na cruz, e mais adiante depois da sua morte no corpo, ele foi deitado num túmulo que não era seu. Ele teve alguma propriedade neste mundo? Ele é aquele a quem os escribas perguntaram:

“Mestre, eu seguir-te-ei para onde quer que vá. Ao que Jesus lhe respondeu: As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos; porém, o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. (Mt. 8: 19-20).

Sim, o fiel que contempla os eventos da natividade do Salvador glorifica a Deus nas alturas, pois o Seu santo plano e a entrega da boníssima nova à mente humana. As profecias que anunciavam através das línguas dos profetas foram cumpridas até o fim.

A sabedoria de Deus em administrar o universo não pode ser alcançada pela mente humana. A Virgem Maria estava em Nazaré na casa do seu noivo José quando o anjo Gabriel anunciou-lhe a boa nova e a divina concepção. Quando chegou ao final dos seus dias de gravidez e ela estava para dar a luz ao seu primogênito, mesmo que se lhe tivesse dado a opção de escolha ela ficaria na casa do noivo José em Nazaré. Mas, Deus ordenara desde o princípio que o Salvador nasceria em Belém – Efrata e a inspiração divina que anunciara isto era a língua do profeta Miquéias no oitavo século antes do nascimento (Mq. 5: 2). Que o seu nascimento seria em Belém, a cidade de Davi assegurando-nos que Ele é da descendência de Davi. Que Jesus Cristo, o Salvador, foi registrado no registro do censo do império romano é uma prova irrefutável e que Ele é considerado da descendência de Davi. A vontade divina fez com que César Augusto, decretasse que todo o mundo habitado deveria se registrar no censo referindo-se com isso a todos os súditos do império romano. Deus do alto ordenou que César Augusto ordenasse que todos os judeus de acordo com o seu costume deveriam dirigir-se a cidade dos seus ancestrais para se registrarem no censo, a fim de que não houvessem futuras confusões sobre sua descendência e origem.

O fiel sempre ficará pasmo e surpreso quando ler a história da natividade do Redentor pela simplicidade de suas expressões e pela facilidade da forma escrita permitindo até a uma criança entender as frases detalhadamente, enquanto os grandes filósofos não são capazes de penetrar na profundidade do seu significado e divinos mistérios. Isto é o que o Senhor Jesus quis dizer em sua oração ao seu Pai sobre a divina administração na carne:

Graças te dou a ti, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. (Mt. 11: 25).

Deus escondeu estes segredos destes que são sábios aos seus próprios olhos para envergonhar a sabedoria do mundo. Por isso Jesus não tinha lugar nas suas casas e não nasceu da filha de um rico ou de um grande filósofo ou cientista, mas ele nasceu de uma pobre órfã, uma menina virgem, Maria. No entanto ela era da linhagem dos reis e sacerdotes e ainda dos profetas. Ele não foi deitado numa cama feita de ouro ou marfim, nem seu corpo puro foi envolto em sedas. Ao contrário ele foi envolto em linho e colocado numa manjedoura num estábulo em Belém, uma cidade humilde, mas onde qualquer um que o procurasse o encontraria.

Ele veio para toda a humanidade, especialmente para os exaustos, aqueles que estavam cansados e aqueles que eram oprimidos. Imagino-o agora, quando era uma pequenina criança deitada na manjedoura tendo aberto seus braços chamando o povo para si como chamaria mais tarde:

“Vinde a mim todos os que andam em trabalho, e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração; e, achareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave e o meu ônus é leve”. (Mt. 11: 28-30).

Esta é a sua mensagem celestial prática para que aprendamos dele a brandura e a humildade a fim de tirarmos dos nossos ombros o jugo da arrogância, esnobismo e orgulho, a fim de encontrar ainda a paz com Deus, conosco mesmo e com todos os nossos semelhantes; para que aprendamos também com ele o amor que se tornou visível na santa cruz quando ele diz ser simples o seu jugo e leve a sua carga. Ele ordenou-nos carregá-la (a cruz) todos os dias e seguí-lo na sua caminhada para o Gólgota, o caminho do sofrimento, o caminho do sacrifício e da abnegação. A manjedoura é o começo da caminhada para a cruz.

A cruz é amor em duas dimensões. A primeira dimensão é a vertical que aponta para o céu atraindo o amor de Deus que primeiro nos amou para que nós o amemos de todo nosso coração, com toda a nossa consciência e com toda a nossa vontade. A segunda dimensão é a horizontal, que corta a dimensão vertical. Aqui o nosso amor a Deus é refletido em todos os homens e então podermos trabalhar o mandamento de Deus amando uns aos outros e sacrificando-nos para tornar sua dor mais suportável imitando o bom samaritano. Pois, ele (samaritano) socorreu aquele que caiu entre os ladrões na parábola que Nosso Senhor Jesus nos deu como exemplo para ensinar a misericórdia que é o fruto do amor.

A mensagem do Natal é a mensagem do amor. O menino Jesus nasceu neste mesmo dia num estábulo, envolto e deitado numa manjedoura porque não havia quarto para ele na hospedaria. Nós o vemos hoje em milhões de crianças que não tem lugar para refúgio, que com suas mães e seus pais estão passando fome enquanto nós nos saciamos na luxuria das boas coisas e parecemos como o homem rico na parábola do rico Lázaro que Nosso Senhor Jesus nos deu como exemplo. O homem rico não mostrou nenhum interesse pelo pobre Lázaro que foi colocado na porta da sua casa e estava morrendo de fome. Ambos morreram e o homem rico foi levado para o inferno, mas os anjos carregaram o espírito de Lázaro para o seio de Abraão. Portanto, todos os necessitados, todos os pobres e todos os órfãos ou viúvas desamparadas são os pequeninos irmãos de Jesus. Mais ainda eles representam o pequenino menino pobre, Jesus, que não tinha lugar na hospedaria e então foi deitado na manjedoura, no estábulo da hospedaria em Belém – Efrata. Então porque não adotamos os ensinamentos de Cristo que julgará a humanidade no último dia baseado nos nossos bons atos praticados no decorrer das nossas vidas alicerçados na fé que temos nele? Porque não nos esforçarmos para ficar à sua direita junto com aqueles que ouvirão sua linda voz dizendo-lhes:

“Vinde, benditos do meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo. Porque tive fome, e destes-me de comer: tive sede e destes-me de beber: era hóspede, e recolhestes-me: estava nu, e cobristes-me: estava enfermo e visitastes-me: estava no cárcere e viestes ver-me. Então lhe responderão os justos, dizendo: Senhor quando é que nós te vimos faminto, e te demos de comer; ou sequioso, e te demos de beber? E quando te vimos hóspede, e te recolhemos: ou nu, e te vestimos? Ou quando te vimos enfermo: ou no cárcere, e te fomos ver? E respondendo o rei, lhes dirá: Na verdade vos digo, que quantas vezes vós fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes”. (Mt. 25: 34-40).


Hoje enquanto celebramos a natividade do Senhor, Jesus, fico curioso em saber se preparamos um lugar para Ele nascer em nossos corações. Será que dissemos aos nossos filhos sobre o seu surpreendente nascimento em carne? Contamos-lhes sobre sua mãe, pobre e órfão, a Virgem Maria, descendente de reis, sacerdotes e profetas, e, do santo e puro que disse a seu respeito: “de agora em diante todas as gerações me chamarão de abençoada, pois o Todo poderoso obrará grandes coisas em mim?” Será que nós lhes dissemos como ela ponderava em seu coração todas estas palavras que ouvira do céu e dos filhos da terra e como ela era devota à lei do Senhor dia e noite? Ou será que transformamos a festa do Natal num “negócio” material sem nenhuma conexão com a festa espiritual? Será que nós lhes dissemos sobre o amor de Deus enviando seu único filho para a nossa salvação e colocando-o numa manjedoura num estábulo para ensinar-nos humildade e candura porque não havia lugar na estalagem? Pergunto novamente; Existe um lugar em nossos lares e em nossos corações? Ou os nossos corações estão cheios de amor por outras coisas que não as de Deus como estavam os corações dos escribas, dos fariseus e dos sacerdotes dos judeus que ignoraram os profetas e estavam preocupados com os seus negócios mundanos?

Eu pondero se quando estamos celebrando nossas liturgias religiosas nesta feliz ocasião, se nós sentimos que Cristo está conosco e entre nós participando conosco da alegria desta festa; ou se nós somos estrangeiros para Ele e estamos distantes dele?

“Chama-lo-ão de Emmanuel, que quer dizer Deus conosco” (Mt. 1: 23)… “E lhe chamarás por nome JESUS: porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”. (Mt. 1: 21). Nós o aceitamos como nosso Salvador e acreditamos no mistério da encarnação e redenção? Ou celebramos esta liturgia da sua festa como uma atividade rotineira que tem a aparência de piedade, mas que perdeu todo o seu poder? Será que as tradições espirituais vieram a converter-se em mero costume social sem conexão com o Espírito? Será que nós levamos vantagem da oportunidade deste feriado para ocupá-lo com a prática de prazeres físicos ilícitos como a intoxicação pela bebida, contendas barulhentas, adultério e jogo? … Isto distancia Cristo de nós e nós de Cristo, e, então não tem lugar para ele em nossos lares e em nossos corações, e, ele não estará conosco nestas ocasiões porque neste caso estas atividades estão distantes do espírito de piedade, do temor a Deus, da misericórdia e da humildade.

Vamos preparar um lugar para Cristo em nossos lares e em nossas almas para que “não sermos mais nos que vivemos, mas é o Cristo que vive em nós” (Gal. 2:20). Vamos emular a Virgem que guardou em seu coração tudo que ouviu dos anjos, dos magos e dos pastores quando ela viu os milagres deslumbrantes e as boas novas que lhe foram anunciadas. Vamos prestar atenção nos dizeres de Nosso Senhor Jesus quando estava respondendo à mulher que entre a multidão levantou sua voz e disse:

“Bem aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos a que foste criado. Mas ele respondeu; Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus, e a guardam!” (Lc. 11: 27-28).

Vamos ouvir a Palavra de Deus, memorizá-la e praticá-la para merecer a benção que a Virgem Maria alcançou dando a luz ao Senhor Jesus em carne.

E que esta festa da natividade seja uma benção para todos, Amem.

Traduzido por
Aniss Ibrahim Sowmy
Diácono evangelista