O que é um Lecionário

(KTOBO D´KERIONO – LIVRO DE LEITURAS)

Um lecionário é um livro de leituras bíblicas dos ofícios divinos da Igreja envolvendo um ciclo anual.

Na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia estas leituras são atreladas ao calendário anual. São lidos textos tanto do Velho como do Novo Testamento incluindo os livros apócrifos exceto os livros da Revelação – Apocalipse, Os Cânticos de Salomão e Macabeus I e II.

O lecionário nos conduz ao ritmo das estações e expectativas não deste mundo.

É o tempo dos céus que nos chama a atenção lembrando os santos e as estações.

As escrituras são determinadas para os domingos e dias festivos; para cada dia da quaresma e para as semanas santas elevando o povo para os vários ofícios da Igreja como para a benção dos óleos e outros sacramentos como, por exemplo, batismos e funerais.

Normalmente três lições do velho testamento, uma seleção dos profetas, três leituras do novo testamento incluindo a leitura dos Atos dos Apóstolos, outra das epístolas católicas (ou universais) ou das cartas paulinas e uma terceira e última leitura de um dos Evangelhos devem ser praticadas diariamente nos diversos cerimoniais da Igreja.

Nas vesperais de Natal e Páscoa uma quarta leitura é acrescida aos ofícios nas orações do entardecer ou vesperais.

As leituras ou lições atingem o clímax quando nos aproximamos da gloriosa semana da crucificação.

Durante a quaresma as lições são recitadas duas vezes ao dia exceto aos sábados. Já durante a Semana da Paixão ou Semana Santa as leituras são determinadas para cada uma das horas das orações principais.

A mais primitiva prova do uso do sistema lecionário podem ser os próprios Evangelhos. M D Goulder sugeriu que a construção de São Mateus, apóstolo e evangelista segue o ciclo judaico das leituras do Tora.

“Um Evangelho não é de forma alguma um gênero literário, o estudo de Mateus revela que é um gênero litúrgico. Um Evangelho é um livro lecionário, uma série de “Evangelhos” usados na adoração semanas seguidas numa leitura contínua. Tal conclusão está evidentemente concorde com o ponto de vista do evangelista… ele oficia semana a semana, ano após ano sua adoração que era judaica na raiz e basicamente judaica na ramificação. Ele explorou leituras judaicas com tradições cristãs de forma judaica: como os judeus liam as Leis por leitura contínua através do ano” *

Enquanto alguns debatem esta tese, poucos duvidam que os primeiros cristãos usassem um ciclo lecionário para um ou três anos, mas a necessidade de incluir as histórias do Evangelho de Jesus na vida e na consciência da comunidade judaico-cristã foi uma força determinante que pode ter culminado com a criação de uma harmonia evangélica.

Conhecido no mundo ocidental como DIATESSERON pode ter sido esta a tentativa de resolver a crise lecionária e enquadrou a vida de Jesus numa narrativa contínua dividida em 55 capítulos. Isto coincide com o número de semanas do ano mais algumas para o Natal e a Páscoa.

O problema desta tese é o desentendimento sobre a data do DIATESSERON.

Alguns situam sua criação no segundo século do Cristianismo e outros insistem que é nitidamente um documento do final do quarto século ou mesmo do inicio do quinto século da cristandade.

Mesmo desconsiderando a prova da datação primeira do DIATESSERON como prova do primeiro sistema lecionário, o ano 411 AD é sem sombra de dúvida a data do sistema calendar sobre o qual as leituras são organizadas (Museu Britânico – manuscrito número 12.150).

A organização das lições das escrituras como a conhecemos hoje com pouquíssimas modificações deve-se a Daniel, um monge do Mosteiro de Beth Batin e seu discípulo Benjamin, bispo de Edessa (Urhoi – Urfa). Benjamim foi assistido pelo monge Isaac, um pupilo dedicado e produtivo do bispo. Acredita-se que Daniel usou lições do DIATESSERON e da PESCHITA, leitura dos quatro Evangelhos.

Por volta de 1000 AD o Patriarca Atanásio IV de Antioquia coletou e classificou os mais conhecidos lecionários onde a maioria era fruto do trabalho de Daniel e Isaac, mas havia diferenças entre os lecionários da época; enquanto ainda Maferiono (vice-patriarca) assimilou e permitiu uma influência oriental tradicional (Iraque, Pérsia, Índia).

As tradições de Antioquia, Edessa, os Mosteiros de Kenexrin (Mosteiro do Ninho das Águias) e Melitene compilaram o modelo de lecionário lida nas Igrejas Siríacas Ortodoxas que hoje define sua tendência cultural para o Oriente Médio.

O sistema lecionário que divergia e tendia para o Oriente foi influenciado pelas tradições de Seleucia, Ctesifon e Tikrit. Isto explica porque as leituras das Igrejas Siríacas Ortodoxas da Índia diferem um pouco das demais Igrejas Siríacas Ortodoxas. A influência “oriental” deste sistema lecionário pode ser detectado nos livros de ofícios organizados pelo Maferiono Denho (Epifânio) III de Harran (912 – 932 AD) e Basílio IV de Tikrit (+ 1069 AD).

As lições ou leituras começam ao entardecer de acordo com o estilo semítico. No ocidente a medida do dia com a ajuda tecnológica do relógio determina os momentos sociais. À meia noite tem início o dia ocidental. No oriente, o dia inicia com o por do sol. Por exemplo, quarta-feira começa com o pôr do sol do entardecer da terça-feira. Desta forma quando lemos a Bíblia ou seguimos o ciclo de tempo do lecionário estamos medindo o tempo de forma diferente. Não começamos nosso dia na escuridão da noite, mas no brilho dourado e suave do início do entardecer; não começamos o nosso dia ao tinir do som do metal, mas aos sussurros do sopro divino nas nossas almas, desta forma atravessamos a noite para a leitura do Evangelho Matinal.

Nossas leituras matinais dominicais oferecem-nos uma sinfonia de textos selecionados desde o início das escrituras até o Evangelho num crescendo onde observamos extasiados a face do Nosso Senhor. As leituras do lecionário não são só para bispos, padres e diáconos, mas para todos os membros da Igreja. Cada fiel cristão deve ler as suas leituras diárias.

Que melhor preparo pode existir para a Divina Liturgia do que a prática das leituras antes de assistir qualquer ofício de adoração?

Deus revelou-se através da tradição, autoridade, experiência e talvez o melhor de tudo: através das Sagradas Escrituras. Nós podemos entender a revelação divina, as Santas Escrituras, através do poder do Espírito Santo e através da orientação e da interpretação dos mestres e teólogos da Igreja.

O melhor argumento, a melhor razão para a leitura das escrituras encontra-se na própria Bíblia:

“Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, censurando o erro, corrigindo as faltas e ensinando a viver corretamente para que a pessoa que serve a Deus possa se qualificar e se munir para praticar todo tipo de bons atos.”

*Goulder, M.D., Midrash and Lection in Matthew, The Speaker’s Lectures in Biblical Studies. 1969 -71, London, SPCK, 1974 – Goulder escreve:- A teoria que desejo propor é a teoria lecionária, isto é, que o Evangelho foi desenvolvido liturgicamente e a intenção era para o uso litúrgico e a sua ordem propõe significado litúrgico, nisso segue as leituras do ano judaico. Mateus creio eu, escreveu seu Evangelho para ser lido no decorrer do ano; ele tomou por base o ano dos festivais judaico e o modelo de leituras ali prescrito; e nos é possível À meia noite tem início o dia ocidental. Por exemplo, quarta-feira averiguar através de Mateus a evidência de cada qual festa e para qual Sabbath/Domingo, e, até ocasião de qual serviço e quais versos particularmente eram objetivados. Tais reivindicações não pecam por modéstia, mas, espero mostrar que a natureza da prova é tão exata e tão convincente que nenhuma outra conclusão é possível. Esta teoria não pesa meramente para a estrutura geral do Evangelho, mas, torna muitos dos detalhes de escopo individual significantes. Naquela estrutura ela também providencia uma crível Sitz-im-Leben para o Evangelho nascido de uma longa investigação…” p,172 Ü Moosa, Matti I., transcrito de Kitab Al Lu´Lu´Al Manthur Fi Tarikh Al-Ulum Wa Al-Adas Al Syryaniya – por Ignatius Aphram Barsoum, Patriarca Sirian Ortodoxo de Antioquia e de Todo o Oriente, traduzido para o inglês com introdução e anotações parciais por Matti I. Moussa, 1965, dissertação não publicada. Publicado inicialmente Histoire dês Sciences et de la Litterature Syriaque, 1933. p.82ibid., pp.102-103.

Este artigo foi escrito pelo frade Dale A Johnson em 9 de outubro de 1991, Johnson é padre da Igreja Siríaca Ortodoxa em Lodi, Nova Jersey – EUA.

O artigo foi pesquisado e coletado pelo diácono evangelista Peter Ibrahim Gabriel Sowmy na Internet no site http//www.sor.cuo.edu/lectionary/index.html e traduzido pelo diácono evangelista Aniss Ibrahim Sowmy.


OBSERVAÇÕES SOBRE O CALENDÁRIO
SIRÍACA ORDOTOXO E O LECIONÁRIO DA
IGREJA SÍRIACA ORTODOXA DE ANTIOQUIA

Sem dúvida o calendário usado pela Igreja Siríaca Ortodoxa segue o chamado calendário Oriental, e, esta desinência uso-a propositadamente em virtude da peculiaridade inicial na medição dos tempos.

A divisão do dia em vinte e quatro horas e estas 24 horas por sua vez em dois períodos de 12 horas cada isto é um diurno e outro noturno tem na língua siríaca ou aramaica desinência especial para cada um dos três períodos cada qual conseqüentemente com significado e medição própria.

Iáumo – compreende o período de vinte e quatro horas
Imomo – é o período diurno de 12 horas, começa às 6 horas da manhã e vai até às 6 horas da tarde.
Lílio – é o período noturno de 12 horas, das 6 da tarde às 6 da manhã.

Como o Iáumo começa às 6 horas da tarde, todas as ações do labor humano ou da glorificação divina têm início ao entardecer.

Na divisão das horas e na contagem das mesmas verificamos que diferentemente do ocidente o Oriente ainda segue a divisão das horas como os antigos assírio-babilônios as propuseram inicialmente – se o dia, isto é o período diurno, tem doze horas então sua contagem inicia às 6 horas da manhã e não à meia noite como no ocidente.

A título de exemplo podemos citar Mateus em seu Evangelho capítulo 27 versículos 45-50 quando relata a morte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo diz: Mas desde a hora sexta até a nona se difundiram trevas sobre a terra… E Jesus tornando a dar outro grande brado, rendeu o espírito.

A sexta hora a que se refere o evangelista é o meio dia ocidental e a nona às quinze horas ou três horas da tarde, pois não se faziam julgamentos e execuções à noite.

Os povos da antiguidade também dividiram os dias em meses de acordo com as fases da lua e por isso os seus meses são chamados de lunares podendo então respeitar as estações do ano e finalmente chegando à medição dos tempos na medição dos anos dos reinados de reis ou imperadores.

Convém lembrar que a divisão dos tempos é criação do homem e não de Deus, pois, esta divisão vem da observação do cotidiano na terra e dos astros, tornando válida a assertiva bíblica de que mil anos são como um segundo para Deus.

Só para dar um pequeno exemplo de tempo e distância um fóton viaja a uma velocidade de 300.000 quilômetros por segundo (ou 186.000 milhas por segundo) e temos de medir as distâncias entre astros, estrelas, planetas, cometas, nebulosas, etc… em UA (unidade astronômica), cada UA equivale a 150 milhões de quilômetros (ou 93 milhões de milhas) e no nosso sistema solar o planeta mais próximo que é Mercúrio está a 0,613 UA ou 92 milhões de quilômetros (ou 57 milhões de milhas) distante da Terra e Plutão por sua vez o planeta mais distante do nosso sistema solar está a 38,439 UA ou 5,97 bilhões de quilômetros (ou 3700 milhões de milhas).

Nosso sistema solar faz parte de uma constelação que chamamos de Via Láctea composta de algo como 100 bilhões de estrelas, mais gás principalmente hidrogênio e poeira de diversos materiais como ferro etc… Esta constelação nunca foi vista por ninguém da Terra do lado de fora. E se nós nos posicionarmos em qualquer outro astro ou planeta quer com relação ao sol ou qualquer outro veremos que a medição de dia e noite variará em função da nossa localização.

Por isso, voltando ao nosso tema, a divisão do tempo foi a forma que o homem encontrou naturalmente para medir este seu tempo, sua vida, trazendo desenvolvimento para si quer individual ou socialmente.

Até hoje a administração do tempo é um tema apaixonante para estudiosos, físicos, astrônomos, matemáticos, filósofos, religiosos, historiadores, etc…

Naturalmente se o homem aprendeu a dividir o tempo, também passou a contá-lo e assim deu base para a história que por sua vez abriu as portas da pesquisa arqueológica, a antropologia ou a paleontologia e muitos outros estudos modernos como a filosofia da história, a sociologia, a estatística, etc…

No campo do saber diferentemente das perseguições e inquisições praticadas no cristianismo ocidental, a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, herdeira das tradições, cultura e língua dos antigos povos assírios, babilônios, caldeus, arameus e fenícios, protegia seus sábios e incentivava as pesquisas nos diversos campos, desta forma temos exemplos que chegam até nós através de gerações e manuscritos esparsos entre os quais podemos citar na arte musical Santo Efrem, o Siríaco, diácono da Igreja, ou Santo Balai, São Simão o Ceramista ou Rábula de Edessa. Em especial Santo Efrem se esmera formatando do relato de José do Egito em forma de prosa teatral. Menos divulgada é a informação de Sabbug, bispo da Igreja que trouxe os algarismos hindus e introduziu-os no Oriente Médio, donde os árabes rapidamente os acolheram e levaram para o ocidente nas suas conquistas; estes algarismos são conhecidos no ocidente como algarismos arábicos. No campo do direito e da legislação canônica o grande Maferiono Barhebroyo (Bar Hebraeus) que com seu Nomocanon e o “Ktobo dÍauno” propõe uma forma de vida cristã acompanhada de uma série de normas canônicas para a sociedade sem ferir os direitos do estado da época.

Na farmacologia Bar Hebroyo tem uma coletânea de aproximadamente quatrocentas recitas medicinais das quais infelizmente só temos por referencia algumas delas.

Na oratória, por volta de 500 AD dois grandes nomes sustentaram a Igreja através das suas pregações Yacoub Burdono e Filoxinos de Mabug, enquanto o Patriarca Severius condenado ao exílio pelo imperador romano de oriente e com a língua cortada para não mais discursar, escrevia suas famosas cartas e homilias, os dois bispos Yacoub Burdono (Tiago Baradeus) e Filoxinos de Mabug percorriam cidades, vilas, comunidades reforçando a fé dos fieis para que a Igreja não perecesse. Alguns historiadores consideram-nos os precursores do “marketing” propagandistico que conhecemos hoje.

Na história Miguel o Sírio é simplesmente o Patriarca Miguel o Grande que faleceu em 1199 e escreveu uma história universal até os seus dias.

Muitos outros exemplos podemos citar, mas temos de voltar ao nosso tema principal que é o calendário na Igreja Siríaca Ortodoxa nos tempos do cristianismo e neste caso vemos que o calendário anual foi dividido em seis ciclos de oito semanas entre os quais destacamos os três principais que são as oito semanas que antecedem o Natal, as outras oito da Quaresma que antecedem a Semana da Paixão e Páscoa e outras oito que se intercalam logo após a Páscoa e a Festa de Pentecostes.

O Natal, a Epifania, a Páscoa ou são festas senhoriais e principais ou maiores na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia bem como a festa de Nossa Senhora Mãe de Deus (Ioldath Aloho) e todas possuem uma semana específica no calendário.

Intercalam-se nos ciclos menores diversos eventos e comemorações histórico-religiosas da Igreja e das comunidades cristãs orientais.

A adoção do calendário Juliano e a posterior alteração do ocidente com adaptação na medição dos tempos para o calendário Gregoriano dispersaram muitas datas interessantes dos povos da antiguidade, mas, cujas festas foram mantidas na tradição siríaca, desta forma o primeiro de abril (had bnissan) continua sendo o primeiro dia do calendário assírio que soma hoje mais de seis mil anos.

Por outro lado festas como das primícias ou das colheitas foram mantidas no calendário siríaco ortodoxo não por tradição judaica, mas por pura tradição das práticas orientais anteriores ao judaísmo.

Não há dúvida que o Cristianismo surge entre os judeus, mas sua base e estrutura são muito anteriores ao judaísmo, sobram provas históricas para tanto e nelas não nos deteremos por ora.

O lecionário por sua vez é uma prática oriental de leituras escolhidas pelo mestre para educar seus alunos, isto é histórico no oriente onde cada um dos pupilos deverá ler sua lição para o mestre e este sistema evoluiu da preleção exclusiva do mestre para os alunos quando da compilação de documentos escritos no processo civilizatório.

Um exemplo prático do lecionário na Igreja Siríaca Ortodoxa atrelado ao calendário é o calendário da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia publicado pela Igreja Sirian Ortodoxa Santa Maria em São Paulo, onde a cada dia vinha atrelada uma leitura bíblica.

No entanto o lecionário ou Ktobo D´keriono – Livro de Leitura – respeita regras definidas pela Igreja onde cada leitura destina-se especificamente ao assunto daquele ofício religioso no dia em que se realiza. Estas indicações não são só para o clero ou os estudiosos porém para toda a coletividade cristã a fim de que cada um medite dia a dia sua passagem nesta vida terrena e através da leitura, da oração e da vigília construa pontes sobre o abismo que o separa de Deus. O fiel deve através da leitura e da meditação reavaliar sua esperança e seu merecimento da Salvação na vida futura.

O conjunto anual de leituras deste livro de leituras em português chama-se Lecionário e segundo Aurélio Buarque de Holanda em seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 24ª. Edição, Lecionário (do latim lectione, “lição” + ário), singular, masculino é o livro que contém as lições ou leituras inscritas no ofício divino.

Se tomarmos o Lecionário da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia veremos que não existe uma única leitura do Velho ou do Novo Testamento para cada ocasião mas várias, possibilitando ao leitor a oportunidade de aprofundar-se no tema em função da sua capacidade pessoal, interesse pessoal ou mesmo buscando uma amplitude meditativa.

Segundo o professor e diácono Ibrahim Gabriel Sowmy (1913-1996) é Titian o Assírio nos primórdios do Cristianismo que pregando o evangelho ou as histórias da vida terrena de Jesus Cristo cantando e não lendo. É Titian que cria o primeiro Lecionário que se chama DIATESSERON, os Evangelistas quando escrevem não observam uma seqüência histórica, mas sim um compilar de dados, atitudes, ensinamentos que vão ser organizados gradativamente pela Igreja. Titian é o pregador-cantor que com seu filho propaga por todo o Oriente a prática da pregação cantada atraindo para si multidões.

Titian, poeta, filósofo e religioso com seu filho são realmente os pioneiros no cristianismo desta pratica.

Ainda hoje existem Lecionários da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia manuscritos nas Igrejas no Brasil, e os sacerdotes podem fazer uso deles se quiserem, pois até hoje, também, os sacerdotes cantam o Evangelho nos diversos ofícios religiosos nos mesmos moldes de Titian.

A manutenção ininterrupta por quase dois milênios desta prática sem dúvida tornou-se grande atrativo no Cristianismo de Oriente, pois, a música por séculos a fio converteu, propagou e manteve a fé não só dos povos do Oriente Médio, mas chegou até a Índia, a China e o Japão.

Enquanto o ocidente só possui registro musical desde 1200 AD o Oriente compilou mais de dez mil hinos na Igreja Siríaca Ortodoxa transmitidos milagrosamente através de gerações de pai para filho como Titian e seu filho, e dos quais aproximadamente mil hinos foram registrados em nota musical ocidental e publicados por Ibrahim Gabriel Sowmy e seu filho Bassimo a partir de 1987 AD.

Estas músicas são trechos da Bíblia tanto do Novo como do Velho Testamento, são salmos, são relatos reduzidos, provérbios, etc… que gravam na mente do ouvinte além do significado também um momento alegre ou meditativo, melancólico ou de regozijo.

Caro leitor para que você possa compor o seu Lecionário damos a seguir um exemplo de leituras vinculadas às datas festivas; lembramos, no entanto muitas das ocasiões são datas móveis e para tanto é preciso ter o calendário do ano em mãos para se situar no dia da leitura, desta forma a oitava semana anterior ao Natal não iniciará no mesmo dia do mês a todo ano.

Finalmente convém lembrar que os ciclos anuais da Igreja começam justamente na oitava semana anterior ao Natal e a Páscoa posiciona-se no calendário oriental lunar uma vez que os Evangelista afirmam que ela ocorre depois da Páscoa Judaica. Como os judeus festejavam sua páscoa em 14 de abril, e estes não fixavam a data no dia da semana, os cristãos consignaram sua festa no domingo e as Igrejas Orientais firmaram a necessidade de que o festival da Ressurreição acontecesse sempre depois da comemoração judaica desta forma a festa da Páscoa sempre foi comemorada no domingo imediatamente subseqüente à Lua Cheia que caísse no ou após o equinócio de verão, logicamente do ponto de vista do hemisfério norte, o que eles consideravam acontecer em 21 de março. Foi levado também em conta que a comemoração da Páscoa deverá ocorrer ou com o dia da Páscoa judaica ou sete dias depois.

Há que se ponderar que na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, o sacerdote tem, também o direito de diversificar a leitura, ou seja, escolher uma outra leitura nos textos sagrados abordando o mesmo tema a fim de enriquecer o conhecimento dos fiéis. Normalmente a leitura é a base da homilia ou preleção que o sacerdote faz durante qualquer cerimônia, no entanto como o nosso objetivo é a orientação do fiel, atemo-nos ao que a Igreja sugere em geral.

Muito mais explicações e situações históricas tem de se conhecer para melhor entender o posicionamento da Páscoa no calendário, mas deixemos isto como um outro artigo.

Vamos nos ater ao Lecionário na seqüência dos dias festivos da Igreja:

LECIONÁRIO
DA
IGREJA SIRIAN ORTODOXA DE ANTIOQUIA

8º. Domingo anterior ao Natal – Santificação da Igreja
OM – Jo. 10: 22-28
SM – At. 8: 1-13, Hebr. 8: 1-13, Mc. 8: 27-33
7º. Domingo anterior ao Natal – Renovação da Igreja
OM – Jo. 21: 15-22
SM – At. 2: 22-36, Gal. 1: 11-24, Lc. 9: 18-25
6º. Domingo anterior ao Natal – Anunciação de Zacarias
OM – Lc. 1: 18-25
SM – At. 3: 17-26, Rom. 9: 6-21, Lc. 11: 45-51
5º. Domingo anterior ao Natal – Anunciação de Nossa Senhora
OM – Mc 3: 31-35
SM – I Jo. 3: 2-12, Gal. 3: 15-22, Lc. 1: 26-38
4º. Domingo anterior ao Natal – Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel
OM – Lc. 1: 39-56
SM – I Jo. 3: 13-20, Gal. 3: 23-29, Lc. 10: 38-42
3o. Domingo anterior ao Natal – Nascimento de São João Batista
OM – Lc. 1: 67-80
SM – I Pdr. 2: 11-25, Gal. 4: 19-31, Mt. 11: 2-15
2o. Domingo anterior ao Natal – Revelação de José
OM – Jo. 6: 30-40
SM – I Pdr. 5: 1-14, Ef. 2: 19 3: 12, Mt. 1: 18-25
Domingo anterior ao Natal – Domingo do Advento
OM – Lc. 3: 23-38
SM – I Jo. 3: 21-24, Gal. 1: 1-10, Mt. 1: 1-17
NATAL – 25 de dezembro OM – Mt. 2: 1-12
SM – I Jo. 4: 1-10, Hebr. 1: 1 – 2:4, Jo. 1: 1-14
Cer.- Heb. 1: 1-12, Lc. 2: 1-20
Glorificação de Nossa Senhora a Mãe de Deus – 26 de dezembro
OM – Lc. 11: 23-32
SM – At. 21: 27-32, Rom 1: 1-12, Lc. 8: 16-21
Circuncisão de Nosso Senhor Jesus Cristo – 1º de janeiro
OM – Lc. 2: 21 e 4: 14-30
SM – At. 20: 17-35, Gal. 5: 1-12, Jo. 15: 8-19
EPIFANIA – 6 de janeiro OM – Mt. 3: 1-17
SM – At. 8: 26-40, Hebr. 10: 15-25, Lc 3: 15-22
Cer. – Num. 20: 1-11, II Reis 2: 19-25, Is. 12: 1-6
At. 8: 35-40, Hebr. 10: 15-25, Jo. 4: 4-42
Morte de São João Batista – 7 de janeiro
OM – Mc. 6: 14-29
SM – At. 7: 44-54, Rom. 8: 28-39, Mt. 14: 1-12
1º. Domingo depois da Epifania OM – Jo. 1: 18-28
SM – I Jo. 5: 13-21, Ti. 2: 11 – 3: 11, Mt. 4: 12-22
2o. Domingo depois da Epifania OM – Jo. 1: 35-42
SM – I Jo. 1: 1-10, Tim. 4: 1-11, Jo. 1: 43-51
3º. Domingo depois da Epifania OM – Jo. 5: 30-47
SM – I Pdr. 2: 1-10, II Cor. 4: 1-6; Jo. 3: 1-12
4º. Domingo depois da Epifania OM – Lc. 7: 18-35
SM – At. 21: 7-14, I Cor. 1: 9-17, Mc. 12: 28-37
5o. Domingo depois da Epifania OM – Lc. 5: 1-11
SM – At. 9: 10-21, I Cor. 16: 1-12, Mc. 1: 12-20
6o. Domingo depois da Epifania OM – Mt. 11: 1-15
SM – I Pdr. 3: 7-15, II Cor. 8: 9-24, Mc. 6: 1-6
Comemoração de Nossa Senhora sobre as semeaduras – 15 de janeiro
OM – Mt. 13: 1-9
SM – At. 18: 12-28, Hebr. 7: 1-17, Mc. 4: 1-9
Apresentação de Nosso Senhor Jesus Cristo ao Templo, Simão o Velho – 2 de fevereiro.
OM – Lc. 2: 22-35
SM – At. 18: 1-11, II Tim. 2: 1-14, Lc. 2: 36-40
2o. Domingo anterior à Quaresma – Sacerdotes Finados
OM – Lc. 19: 11-27
SM – Tg. 5: 7-20, Hebr. 13: 9-25, Mt. 24: 45-51
1º. Domingo anterior à Quaresma – Todos os Finados
OM – Jo. 5: 19-29
SM – At. 20: 7-16, I Tes. 4: 13-28, Lc. 12: 32-48
1o. Domingo da Quaresma – Bodas de Canaã
OM – Lc. 16: 1-13
SM – At. 9: 1-19, Rom. 13: 11 – 14: 23, Jo. 2: 1-11
Comemoração de Santo Efrem, o Siríaco
OM – Jo. 15: 17-27
SM – At. 12: 1-17, Jo. 4: 46-54
2º. Domingo da Quaresma – A cura do leproso
OM – Mt. 8: 1-13
SM – At. 9: 22-35, Rom. 16: 17-27, Lc. 5; 12-16
3º. Domingo da Quaresma – A cura do paralítico
OM – Jo. 5: 1-18
SM – At. 3: 1-10, Ef. 5: 3-21, Mc. 2: 1-12
4o. Domingo da Quaresma – A mulher cananita
OM – Mc. 7: 24-37
SM – At. 13: 1-12, I Tes. 5: 12-28, Lc. 13: 10-17
Exaltação da Cruz na Metade da Quaresma. Conversão do Rei Abgar de Edessa
OM – Mt. 17: 22-27
SM – At. 7: 37-43, II Cor. 9: 1-15, Jo. 3: 13-21
5o. Domingo da Quaresma – O Bom Samaritano
OM – Lc. 7: 1-10
SM – At. 16: 16-34, I Tim. 6: 1-12, Lc. 7: 11-17
6o. Domingo da Quaresma – A cura do cego Bar Timai
OM – Jo. 9: 1-41
SM – At. 23: 12-22, II Cor. 10: 1-18, Mt. 20: 29-34
7o. Domingo da Quaresma – Domingo de Ramos
OM – MT. 21: 1-22
SM – At. 7: 30-36, Rom. 10: 5-21, Jo. 2: 12-19
Cer.- Gen. 49: 8-12, Zac. 9: 9-12, Is. 51: 9-11
I Jo. 2: 7-15, Rom. 11: 13-24, Mc. 11: 1-18
Noite de Vigília – das Dez Virgens
Cer. – Jer. 18: 18-22, At. 3: 22-26, Hebr. 5: 12-14
Mt. 25: 1-13
Quinta Feira Santa – Instituição da Santa Eucaristia
OM – Lc. 7: 36-50
SM – At. 1: 15-20, I Cor. 11: 23-43, Lc. 22: 14-30
Ceremonial do Lavapés
Cer. – Ex. 34: 18-26, II Reis 23: 21-25, Is. 50: 4-10,
I Pdr. 3: 17-22, Hebr. 10: 21-29, Jo. 13: 1-19
Sexta Feira Santa – Adoração da Santa Cruz
Cer. – Gen. 22: 1-14, Ex. 17: 8-16, Is. 52: 13-15, 53:
1-8, I Pdr. 2; 19-25, Gal. 2:21 – 3:14, Lc. 23:49
Mt. 27: 55-56, Mc. 15: 41 e Jo. 19: 31-37
Sábado de Aleluia OM – Mt. 27: 57-61
SM – At. 2: 22-36, II Cor 1: 1-7, Mt. 27: 62-66
Cer. – Mt. 18: 12-22
Domingo de PÁSCOA – Festa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo
OM – Lc. 24: 1-12
SM – At. 13: 26:43, I Cor. 15: 20-33, Jo. 20: 1-18
Cer. – Lev. 23: 26-32, Miq. 7: 8-13, Is. 57: 19-20;
Is. 60: 17-22, I Pdr. 5: 5-14, Rom. 16: 1-16
Jo. 13: 34-35, 14: 27.
1o. Domingo depois da Páscoa ou Domingo Novo
OM – Jo. 20: 26-31
SM – I Pdr. 1: 13-25, Ef. 4: 17-24, Jo. 20: 19-25
Cer. – Num. 5: 6-10, Sl. 149 e 150, Is. 48: 12-22,
I Pdr. 1: 13-25, Ef. 4: 17:24, Jo. 20: 19-29
2º. Domingo depois da Páscoa OM – Jo. 21: 15-19
SM – At. 3: 11-26, Ef. 4: 25-32, Jo. 21: 20-25
3º. Domingo depois da Páscoa OM – Mt. 14: 22-33
SM – At. 9: 3-13, Hebr. 10: 1-14, Jo. 4: 31-38
4º. Domingo depois da Páscoa OM – Jo. 3: 11-21
SM – At. 4; 8-21, Ef. 2: 4-18, Jo. 6: 47-58
Comemoração de Nossa Senhora sobre a colheita – 15 de maio
OM – Mc. 4: 26-29
SM – Jo. 3: 2-16, II Cor. 9: 1-15, Lc. 6: 1-5
5º. Domingo depois da Páscoa OM – Jo. 16: 16-30
SM – I Jo. 4: 19 – 5: 15, Col. 1: 21-29, Lc. 8: 49-56
6º. Domingo depois da Páscoa OM – Jo. 17: 13-26
SM – I Pdr. 3: 17-22, Hebr. 3: 14 – 4:13, Jo. 6: 35-46
Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo – Quarenta dias depois da Páscoa
OM – Lc. 24: 44-53
SM – At. 1: 1-14, Ef. 4: 1-16, Mc. 16: 14-20
Cer. – Ef. 4: 1-16, Lc. 24: 45-53
7º. Domingo depois da Páscoa – PENTECOSTES ou Cerimonial da Genuflexão diante do Espírito Santo OM – Jo. 14: 15-21
SM – At. 19: 1-12, Ef. 3: 13-21, Jo. 14: 22-26
Cer. – 1ª. Genuflexão – Gen. 11: 1-9, Jz. 13: 24 – 14: 7
At. 19: 1-6, I Cor. 14: 20-25, Jo. 14: 1-17
2ª. Genuflexão – II Reis. 2: 14-17, Jl. 2: 25-32,
At. 19: 8-12, I Cor. 14: 26-32, Jo. 4: 13-24
3ª. Genuflexão – Num. 11: 16-35, I Sam. 10: 9-
15, At. 2: 1-21, I Cor. 12: 1-13, Jo. 14:25-57,
15: 26-27, 16: 1-15.
8º. Domingo depois da Páscoa OM – Mt. 11: 20-30
SM – At. 5: 12-16, I Cor, 2: 9-16, Jo. 6: 26-34
Comemoração dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo – 29 de junho
OM – Mt. 20: 1 -16
SM – Tg 2: 14-26, Flp. 1: 12-30, Jo. 21: 15-19
Transfiguração – 6 de agosto OM – Mc. 9: 1-13
SM – II Pdr. 2; 1-22, II Cor. 3: 4-18, Lc. 9: 28-36
Assunção de Nossa Senhora – 15 de agosto
OM – Lc. 11: 23-32
SM – I Pdr. 4: 1-6, Hebr. 9: 3-12, Jo. 19: 25-27
Natividade de Nossa Senhora – 8 de setembro
OM – Lc. 8: 16-21
SM – I Jo. 3: 2-24, Gal. 3: 15-29, Mt. 12: 38-50
Comemoração do Encontro da Cruz – 14 de setembro
OM – Mc. 13: 24-31
SM – At. 13: 26-39, Gal. 2: 17 – 3: 14, Lc. 21: 5-28

Observação final: nas Santas Missas e nos Cerimoniais sempre ocorre a leitura dos Atos dos Apóstolos, uma epístola e um Evangelho.

Abreviaturas: OM – Orações Matinais, SM – Santa Missa, Cer. – Cerimonial específico do evento do dia.
Abreviaturas do Velho Testamento: Gen. – Gênesis, Ex. – Êxodo, Lev. – Levíticos, Num. – Números, Jz. – Juízes, Sl. – Salmos, Is. – Isaías, Jer. – Jeremias, Jl. – Joel, Miq. – Miquéias, Zac. – Zacarias.
Abreviaturas do Novo Testamento: Mt. – Mateus, Mc. – Marcos, Lc. – Lucas, Jo. – João,
At. – Atos dos Apóstolos, Rom. – Romanos,I Cor. – Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, II Cor. – ibid Segunda…, Gal. – Gálatas, Ef. – Efésios, Flp. – Filipenses, Col. – Colossenses, I Tes. – Primeira Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses, II Tes. – ibid Segunda…, I Tim. – ibid primeira a Timóteo, Ti. – Tito, Hebr. – Hebreus, Tg. – Tiago, I Pdr. – Primeira Epístola de São Pedro, II Pdr. – ibid segunda, I Jo. – Primeira Epístola de João, II Jo. – ibid segunda..

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Aniss Ibrahim Sowmy
e
Peter Ibrahim Gabriel Sowmy
Diáconos Evangelistas